sábado, 12 de agosto de 2006

Tucano sem asa

Geraldo Alckmin não deveria ter sido o candidato do PSDB. Já estava claro desde o começo do ano( desde antes, na verdade) que esta seria uma eleição difícil, acirrada e a vitória não seria tão fácil quanto a oposição acreditava. Quer dizer, estava claro para quem quisesse ver, o que parece não ter sido o caso de boa parte do partido, que optou por um candidato muito menos conhecido e com índice muito inferior nas pesquisas. A única forma que Alckmin achou para ser o escolhido pelo partido foi rachando-o. A forma para Serra o ser era unindo-o. A mera escolha do candidato já indicava o rumo da campanha...
Entre os que apóiavam Alckmin havia os que rejeitavam o "esquerdismo" de Serra, os que acreditavam na necessidade de um "gerente" assumir o Brasil e também os que diziam ser o atual candidato ao governo paulista ser "ruim de voto". Opa, como pude esquecer-me dos que diziam não ser possível o rompimento da promessa de não abandonar a prefeitura, de que isso seria uma quebra de palavra inaceitável? O tempo vem mostrando o erro desses grupos, ao que Lula e o PT agradecem¹.
Depois do mês passado, todo mundo começou a achar que Geraldo iria deslanchar e que um segundo turno era algo inevitável. As pesquisas das duas últimas duas semanas mostraram que foi uma precipitação. As eleições podem acabar em um só tiro e o desempenho do tucano pode ser pior do que o mais pessimista dos pessimistas esperava. Digo, posso porque sei que é possível uma virada, principalmente com o início do horário eleitoral gratuito na TV. Possível, mas muito difícil. Os entusiastas( ainda os há?) de Alckmin ainda escoram-se nesse horário, como se escoraram no início da exposição que ocorreria a partir de abril, maio...
E qual é o grande problema de Alckmin? A meu ver, o ponto é que o peessedebista não consegue identificar-se com uma bandeira, associar sua campanha com um projeto de governo, com uma intenção, com o que fosse. Em 94 FHC identificava-se com o Real. Em 98, com a estabilidade, a continuidade do trabalho. O Lula de 02 acenava com uma desejada mudança de ares. Agora, identifica-se para alguns setores como o anti-reacionário(apesar de ter um governo não tão mudancista) ou como aquele que faz algo para pobres, um político mais "do povo" dentre corjas que assolariam o Congresso. Alckmin identifica-se com o quê? Pra falar dos derrotados nas últimas campanhas, o Lula de 94 e 98 era o mudancista radical, o "anti" por definição: contra o establishment político, contra privatizações, contra negociatas, etc... Serra encontrou problemas porque nem se sentia tão à vontade na defesa do governo muito menos em se portar como quem poderia realmente encampar mudanças (num discurso assim, correria o risco de servir de escada aos oposicionistas).
Alckmin já tentou identificar-se como o candidato da economia dinâmica, dos juros baixos, crescimento do PIB. Tentou ser o anti-corrupto. Até agora, nenhuma das duas "faces" mostrou-se adequada para angariar votos, até porque foram tentadas de forma incompetente e insuficiente. Qual o plano de vôo para a economia? Qual a grande bandeira e como isso vai influenciar na vida de todos os brasileiros? Os tucanos não apresentaram respostas nem no economês muito menos fora dele, aliás os projetos de governos há muito já são só peça de ficção. O que Alckmin propõe exatamente pra diminuir a corrupção? A própria oposição não mostrou firmeza na hora de cortar a própria carne, nos casos Brant e Azeredo e passou a idéia de que é igual ao governo nessa seara.
A única coisa que foi feita decentemente foram algumas críticas ao governo, mas acabaram muitas vezes ofuscadas pelas crises das Sanguessugas( num escândalo Governo-Congresso, no qual se pode bater muito na atuação do Executivo) e da Segurança Pública no Estado de São Paulo. Muito da (por enquanto) derrota de Alckmin foi na "guerra de propaganda" com os petistas. Outro tanto encontra-se na anomia que está presente nos políticos brasileiros.

O problema é que para quem quer ganhar uma eleição difícil, a necessidade de formular, propôr e motivar o eleitorado é dez, cem, mil vezes maior para quem quer manter-se no cargo.


1- Serra vai abem nas pesquisas em SP, apesar de todo o problema com o PCC. E, bem, para ser candidato ao governo ele teve que deixar a prefeitura, né? Não consta que os paulistas( e os paulistanos, principais interessados no assunto) tenham retaliado a decisão do tucano. E quanto ao esquerdismo, parece-me melhor alguém que saiba que rumo quer implantar na economia para lá de chavões. E eu duvido muito que Serra seja um estatista extremo. Agora, anarco-liberais e miniarquistas arrumem um candidato, agrupem-se em um partido porque esse tipo de liberalismo que vocês desejam estão longe de aplicação prática no momento.

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