quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Não desistam

"Não desistam"- Isso foi o que a professora de aulas teóricas da auto-escola falou logo na primeira aula. Aula teórica é aquele negócio chato, que é basicamente um professor falando coisas para uma turma que não consegue prestar atenção em tudo- e nem seria possível do jeito que a aula é- ensinando coisas que (não) vão cair numa prova e passando vídeos de 10 anos atrás. Claro, é possível aproveitar alguma muita coisa, como em quase tudo na vida, mas é preciso que haja muita concentração para isso. Concentração. "Não desistam".
Passou bastante tempo entre laudo, exame teórico e marcar aulas práticas. Até que começou.
"O que é isso?". Esta é a primeira pergunta, ainda que não feita explicitamente, de uma pessoa que nunca pegou num carro. 3 pedais para dois pés, um mais fino, um painel cheio de símbolos, volante, setas, câmbio, tudo que deve ser plenamente coordenado. Isso serve pra isso, aquilo para aquilo, outro para isso e aquilo, ok? Ok.
Liga o carro. Não, não é assim. Olha o controle do volante. Você assiste muita novela, né? Não precisa ficar mexendo a mão no volante. Ó, na hora de girar, é uma mão por cima da outra. Uma mão por cima da outra. Por cima da outra.POR CIMA DA OUTRA. A curva. Não, não precisa girar muito o volante. Gira o volante! Acelera! Acelera, se não pára. Parou. Liga de novo. Acelera. Para que acelerar tanto? Acelera menos. Não, não larga, para que largou? Continua, isso, isso, Não, pra esquerda não! Olha o retrovisor! Sinaliza e vai. Embreagem, passa a marcha. Não, assim não. Não! Ah, sim, agora sim.
É mais difícil do que ... Aliás, mentira. Sempre foi difícil, sempre pareceu difícil, muito difícil. Todo mundo avisou, desde o começo.

Continue andando.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Em defesa do medo

Diferente do que se pode pensar, coragem não se opõe ao medo, não são características contraditórias. Ao contrário, para que a audácia se manifeste de forma plena, muitas vezes é importante que se tenha noção dos riscos e dos limites para ação, e isto se constitui somente com a presença do medo.
O medo, este traço de personalidade tão difamado, alvo da maledicência de tantos ao longo dos tempos, motivo de constrangimento de rapagões com sede de auto-afirmação e só admirado em donzelas indefesas de um século anterior(nem isso mais sobrou para o pobre Medo, coitado), sem ele não há nem que se falar em coragem.
Nosso amigo, papai Houaiss, nos diz que a palavra coragem vem do "francês 'courage' (1050, por coeur) 'coração', depois (c1100) 'disposição nobre do coração, qualidade espiritual de bravura e tenacidade', der. de coeur + suf. -age; ver cor(d)-". Ora, isso nos revela que mais do que a oposição ao temor, a coragem é um estado de espírito, uma nobreza de caráter, que faz com que os perigos sejam enfrentados.
O medo, ainda que como temor irracional, serve de alerta aos perigos. Não que seja impossível de haver um corajoso sem medo, mas de toda forma, ele é um corajoso incompleto, um corajoso ao qual falta aquele "pouco mais" que o transformará num espírito nobre de fato, afinal para que a coragem seja uma característica positiva e útil, já não basta existir por si e sim como função. A coragem existe para que se enfrente as dificuldades, as adversidades que estejam postas na vida. Não é que as dificuldades a serem enfrentadas devam ser vencidas necessariamente, mas há a nobreza do confronto, que só se dará com a existência da coragem.
E o medo, este tão desprezado, ele é fundamental no que serve de alerta e base para o enfrentamento do perigo. Só se conhecendo o perigo ou tendo noção de sua dimensão é possível confrontá-lo, com exceções a confirmar a regra.

Por isso, nunca deixem de ter medo. Mas sempre busquem a coragem.