segunda-feira, 14 de agosto de 2006

marcola e o mulato inzoneiro

A última ação de repercussão que é atribuída ao PCC foi o seqüestro de um repórter e um assistente de direção da Globo há 3 dias. Ambos foram entregues com vida, mas o canal teve de ceder a uma chantagem: Exibir um vídeo de uns três minutos com uma declaração crítica ao sistema prisional e a favor de que se cumpra o "Estado Democrático de Direito" (sic). Que isso não tenha sido comentado à exaustão em rodas infinitas de discussão já é um sinal de que o país vai mal das pernas. De certa forma, já uma espécie de anestesia tomou a população. Ok, o oposto disso( o pânico coletivo, o temor desesperado) não ajudaria mais e talvez fosse tão perigoso quanto a inércia. Mas um pouco de cuidado e atenção não faz mal a ninguém.
Somente nos últimos 3 meses( menos que isso, na verdade) diversos ataques do PCC tomaram o Estado de São Paulo. Ataques contra policiais, agentes penitenciários, Ministério Público, etc... As autoridades do Estado são constantemente desrespeitadas e desmoralizadas. Uma briga de constranger o mais cínico dos hipócritas tomou tento entre o governo de São Paulo e o federal(sendo que mais patéticas ainda são as tentativas de conciliação), de modo que a incompetência das mais diversas esferas de governo acabaram turvadas pelo disse-me-disse, por algumas bravatas e até por reclamações justas. Alguns pontos nesse debate devem ser lembrados:

1- O governo Lula tem um investimento pífio em segurança pública, na construção de presídios federais e na segurança das fronteiras. Investe menos que o governo FHC.

2- O governo FHC já teve uma atuação débil nessa área. Já desde antes até dos anos FHC na presidência que os índices de violência do país vêm aumentando de uma forma escabrosa e muito menos do que é necessário para debelá-los é feito.

3- O governo de São Paulo também em algum grau foi ineficiente para combater a violência e a insegurança do Estado(assim como em maior ou menor grau, os governos dos Estados de todo o país também foram inertes). É bem verdade, porém, que vem ocorrendo queda de índices de homicídios e latrocínios no Estado, o que é um ganho, claro. É importante saber, porém, até que ponto isso tem a ver com a política do Estado e o quanto de influência da organização e (possível) centralização do comando da criminalidade.

É quase um consenso que quem alimenta a violência no país são os jovens entre 18 e 24 anos. Quando digo alimenta, são as pessoas que cometem e acabam sendo atingidas pela própria violência. Seriam esses os jovens, que sem perspectiva de crescimento na vida, cometeriam crimes contra o patrimônio e seriam atraídos pelo rentável(e mortal) comércio de drogas. Não duvido desse prognóstico, mas duvido que somente os problemas da desigualdade social e das poucas chances de ascensão real econômica, por si só, levem alguém a cometer crimes. Há dois componentes que não podem ser desprezados: Um é o componente moral, algo que vem sendo constantemente destruído no Brasil, principalmente a noção de respeito ao outro que não alguém bem próximo(um parente, um apadrinhado); Outro é o componente institucional: o Estado dá a impressão de que não representa, de que pune mal e só pune os "não" amigos, os que não são parentes, amigos, escravos ou o que for dos agentes públicos. Não se há de menosprezar, claro, o componente econômico que perpassa tudo isso, mas está longe da associação mecânica que muitos, entre eles o presidente da República, fazem entre pobreza e violência. Sempre é mais complexo.
A questão do "crime organizado" é bem mais complicada do que um amontoado de pretos pobres batendo carteira e vendendo pó e erva em bocas de fumo nas esquinas de tudo quanto é cidade brasileira.O que Marcola e seus semelhantes no resto do país fazem é um desafio a um Estado Democrático, é um enfrentamento armado à sociedade. Já se passou há um tempo de ser algo incipiente. A entronização do crime no Estado é um capítulo relativamente recente porém tem um efeito de devastação atômica na ainda jovem democracia brasileira. A julgar a desimportância com que o tema vem sendo tratado por políticos, inclusive os candidatos à Presidência e pela alternância entre choque e inércia, quase demência da sociedade civil( OAB, ABI, isto ainda serve para alguma coisa ??), a canoa já furou.

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