quinta-feira, 31 de agosto de 2006

páginas da vida MDX

Na segunda vez em duas semanas que fui à livraria estava lá um senhor, idoso, possivelmente com mais de 70 anos. Dá para ouvir suas conversas com o interlocutor, sempre mais jovem, já que ele fala em um tom de voz bem elevado. Está lá falando sobre filmes, sobre a qualidade dos de antigamente, reclama de alguns filmes de hoje, faz alguns comentários generosos( "Tom Cruise é esforçado"), outros elogiosos( "a mulher dele, aquela Nicole Kidman, é boa") e da última vez estava gabando-se de ter a maior coleção de filmes de caubói da Bahia(ou do Brasil, não lembro. Acho que ele se restringiu à Bahia mesmo), 559 filmes. Falava também sobre Cecil B. De Mile e sobre um filme que somente outros três colecionadores tinham porque ele tinha emprestado, sem esquecer de responder às indagações do porquê de não ter uma locadora.

Até seria engraçado, curioso, pitoresco, se depois que ele saísse, tanto o interlocutor como os vendedores da loja não resmungassem, como que aliviados de sua saída.

Donde se conclui: A solidão é uma desgraça.

culpa católica



A constante sensação de estar errado. Se eu pudesse definir "culpa católica" é assim que eu a definiria. Estar errado desde que nasceu, por uma coisa que aconteceu pouco depois da Criação. Nunca estou convicto bastante do que quero, nunca estou certo o suficiente quanto ao que devo fazer. Cada passo, 34 perguntas, cada pergunta, 34 desconfianças quanto ao que penso, digo, como faço essas coisas. Talvez este tenha sido o motivo de ter ficado inerte tanto tempo. O medo.
Covardia é das piores características que uma pessoa pode ter, porque aliada a um pouco de insegurança simplesmente emperra tudo. Mas eu falava de culpa católica. Ainda que eu só tenha pisado em uma Igreja umas 3 vezes em 3 anos, que há uns 8 ou 9 eu já não realize tudo o que me faria um católico, não consigo me desvincular de certas coisas que aprendi e em que acreditei(acredito bastante ainda, de certa forma). De todas elas(e acho que é uma das formadoras do meu caráter), a que restou mais forte é a sensação de estar pecando a cada passo, a cada ato. É a constante sensação de estar errado, de que há uma vigilância em cada um dos meus passos tortos.
Como eu sou uma figura barroca (portanto, esquisita, soando ridícula e exagerada, apaixonada e sempre ambígua e contraditória), o outro dado da personalidade é a confiança de estar em alguma espécie de caminho trilhado, um caminho correto e glorioso. Está feito, então, o cenário para derrapar, tropeçar, ralar a cara no chão e ser motivo de chacota. Aí é a hora de me centrar na culpa católica e botar a mão na cabeça.

sábado, 26 de agosto de 2006

páginas da vida II

- Me desculpe, mas fez quantos anos, Rafael?
-19.
-Não parece não.
-Por quê? Parece mais?
- Não, parece menos. Tem cara de criança.
- Hahaha
- É, tem uns de 19 anos com a cara de "véi", toda acabada.
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Isso quem me disse foi Israel, um assistido lá do SAJU.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

radicais-livres

Um argumento dos mais irritantes numa discussão é a "negação da radicalidade". Esse consiste na desqualificação da opinião alheia por ela supostamente ser extremista demais, ou por pouco realista ou por intolerante. O grande problema aí é que o suposto anti-radical sequer parte para avaliar o conteúdo dos argumentos do outro debatedor. É uma desqualificação "a priori" que empaca o debate e,pior, pode fazer parecer que o radical esteja errado, ainda que não esteja.
Claro que é preciso pôr em termos o que é "certo" ou "errado", mas creio que sempre se deve buscar algo chamado "verdade"(ainda que em termos relativos, como muitos preferem). Os "moderados" sempre usam o exemplo "fim de debate" que é equiparar o "radical" a Stálin, Hitler, ou , se mais modernos, Bush e Bin Laden.
Ora, afinal o que é radicalismo se não defender convictamente no que se acredita? Não há problema algum em ser um radical, desde que a idéia defendida não seja errada.
Como isto aqui está soando abstrato, termino com dois exemplos de conversar minhas na faculdade, por acaso com um mesmo colega. O primeiro é do ano passado, quando ele dizia que Palocci era um petista diferenciado e admirável e eu dizia ele não diferir de outros, inclusive no quesito autoritarismo. Depois do episódio do caseiro, o que restou a ele a não ser algumas risadas e "eu não disse bem aquilo"?
Outro exemplo é minha posição quanto a um professor nosso, que extremamente irresponsável(é bem verdade que está muito longe de ser uma avis rara na FDUFBa), não cumpriu o programa, além de ter dado aulas curtas, isso apesar das expectativas para as aulas deles terem sido as maiores possíveis, visto que tem um contrato com uma editora nacional, é palestrante renomado e conhecido como uma das cabeças do "Novo Direito Civil"(ao menos assim o vendem). Eu digo que não consigo esperar mais nada razoável dele depois do que vi ele fazer nas aulas. Meu colega também é crítico quanto a ele(duvido quem não o seja entre os meus colegas) diz que é preciso "ponderar", que ele é razoável, possui conhecimento. Poderia ser um irresponsável, mas não seria de todo ruim. Ok, claro que eu não o considero o mais fraco dos professores do Direito, mas não é porque ele passou em primeiro em um concurso que ele não merece críticas virulentas. Muito ao contrário, merece até mais críticas.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

mellitus

Revelar que eu tenho diabetes é sempre um problema. Não pela doença em si, não tenho grilos quanto a falar sobre o assunto, acho bastante normal, adapto-me bastante, não sinto nenhuma forma de depressão por não comer doces (ok,dietéticos são piores, isso é inegável, mas dá pra viver mais do que numa boa- talvez bastante mais pobre), nem me sinto diminuído por tomar 13 unidades de insulina por dia. É óbvio que isso não é motivo de vergonha para ninguém. Até porque minhas ilhotas de Langerhans estarem sendo destruídas pelo meu organismo sem que eu pudesse fazer muita coisa nunca poderia ser vergonha.
Mas o quê, eu disse "revelar" logo ali no começo. Estaria eu me traindo? Na verdade, assim como não é motivo de vergonha, também não é de orgulho dizer que tenho diabetes. E quando eu falo isso, invariavelmente as pessoas parecem condoídas, com um tanto de pena. "Oh, toma remédio, é? Oh, e você faz como? Vixe, sem açúcar?". Coisa é quando esquecem-se que você é diabético e oferecem alguma coisa com açucar. "Ô, desculpa". Ou ainda, quando não oferecem e falam: "ah, você não pode". Isso tudo é bastante constrangedor, não tanto por me lembrar do que não posso fazer(disso eu me ocupo quase toda hora), mas mais ainda por eu sempre pensar que as pessoas estão me vendo como alguém frágil, um diferente. Não que eu não goste de atenção especial, de um cuidado extra, claro que não, eu gosto mesmo, meu ego é bastante grande para ser massageado dessa maneira, mas sempre tenho a impressão de que a diabetes "fragiliza" ainda mais a imagem que as pessoas têm de mim (assim como a história do novinho inteligente, de dois posts atrás).

É incrível que nos últimos posts , quanto mais velho eu fico(afinal, o tempo tá passando), mais eu pareço um adolescente resmungão e preocupado com o que os outros pensam de si.

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

O algo mais


Vai fazer uns três anos que não dou muita bola para aniversário. Até 2002, era um dia bastante esperado, não por festas, nunca fui de fazê-las, nem exatamente por presentes, já que no mais das vezes os presentes são livros e roupas e especiarias que em qualquer época do ano podem ser compradas. Era um dia esperado porque afinal era um evento, era um dia que eu achava meu, centralizado, um pouco das atenções, afinal, deveriam estar voltadas para mim.
Não é exatamente um desânimo, talvez esteja mais para um 'choque de realidade'. É um dia como qualquer outro, só que alguns(e o tempo vai aumentando esse alguns) anos atrás eu simplesmente não estava por aqui. Deveria servir para fazer um balanço, prospecções, mas acho que já faço isso até de mais.
Tudo isso eu digo porque certas pessoas me perguntaram o que eu iria fazer no dia de meu aniversário(por acaso, é amanhã). Eu não sei. Ir ao bar? Restaurante? Não fazer nada? Gastar dinheiro na livraria? Nossa, isso tudo parece bem pouco. Falta o algo mais. Dêem-me isso de presente, ok?

terça-feira, 15 de agosto de 2006

prontidão



Duas coisas acabam recorrentes quando eu estou a reclamar de meus erros com alguns amigos( amigas, na verdade): 1- Que eu sou "inteligente" e 2- Que eu sou bem novo. Ah, uma outra pessoa já levantou que eu "entendo de política", que isso realmente era uma qualidade, etc... Ok, não vou rebater essas qualificações, porque no final das contas acabam servindo a meu ego. Imagino que seria bem pior ser chamado de burro, de velho( não que eu esteja desdenhando da maturidade, minha encanação com a velhice tem a ver com outra história, que daqui a uns tempos vira post) ou de alienado... Ops, ser chamado de "politizado" ainda é uma espécie de xingamento, né? Enfim...

Essas coisas aí de cima, por mais que me envaideçam de um lado( e eu tenho um lado bastante envaidecido e egocêntrico), por outro me chateiam. Chateiam-me porque parece que me distancia de todas as pessoas, como se eu fosse um diferente. Isso ouvido de garotas, então, só faz parecer a vala maior em uns 19436 metros. Não é agradável, ainda mais porque essa espécie de "solidão" é bem diferente do que se espera da juventude. Ah, a juventude...

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

marcola e o mulato inzoneiro

A última ação de repercussão que é atribuída ao PCC foi o seqüestro de um repórter e um assistente de direção da Globo há 3 dias. Ambos foram entregues com vida, mas o canal teve de ceder a uma chantagem: Exibir um vídeo de uns três minutos com uma declaração crítica ao sistema prisional e a favor de que se cumpra o "Estado Democrático de Direito" (sic). Que isso não tenha sido comentado à exaustão em rodas infinitas de discussão já é um sinal de que o país vai mal das pernas. De certa forma, já uma espécie de anestesia tomou a população. Ok, o oposto disso( o pânico coletivo, o temor desesperado) não ajudaria mais e talvez fosse tão perigoso quanto a inércia. Mas um pouco de cuidado e atenção não faz mal a ninguém.
Somente nos últimos 3 meses( menos que isso, na verdade) diversos ataques do PCC tomaram o Estado de São Paulo. Ataques contra policiais, agentes penitenciários, Ministério Público, etc... As autoridades do Estado são constantemente desrespeitadas e desmoralizadas. Uma briga de constranger o mais cínico dos hipócritas tomou tento entre o governo de São Paulo e o federal(sendo que mais patéticas ainda são as tentativas de conciliação), de modo que a incompetência das mais diversas esferas de governo acabaram turvadas pelo disse-me-disse, por algumas bravatas e até por reclamações justas. Alguns pontos nesse debate devem ser lembrados:

1- O governo Lula tem um investimento pífio em segurança pública, na construção de presídios federais e na segurança das fronteiras. Investe menos que o governo FHC.

2- O governo FHC já teve uma atuação débil nessa área. Já desde antes até dos anos FHC na presidência que os índices de violência do país vêm aumentando de uma forma escabrosa e muito menos do que é necessário para debelá-los é feito.

3- O governo de São Paulo também em algum grau foi ineficiente para combater a violência e a insegurança do Estado(assim como em maior ou menor grau, os governos dos Estados de todo o país também foram inertes). É bem verdade, porém, que vem ocorrendo queda de índices de homicídios e latrocínios no Estado, o que é um ganho, claro. É importante saber, porém, até que ponto isso tem a ver com a política do Estado e o quanto de influência da organização e (possível) centralização do comando da criminalidade.

É quase um consenso que quem alimenta a violência no país são os jovens entre 18 e 24 anos. Quando digo alimenta, são as pessoas que cometem e acabam sendo atingidas pela própria violência. Seriam esses os jovens, que sem perspectiva de crescimento na vida, cometeriam crimes contra o patrimônio e seriam atraídos pelo rentável(e mortal) comércio de drogas. Não duvido desse prognóstico, mas duvido que somente os problemas da desigualdade social e das poucas chances de ascensão real econômica, por si só, levem alguém a cometer crimes. Há dois componentes que não podem ser desprezados: Um é o componente moral, algo que vem sendo constantemente destruído no Brasil, principalmente a noção de respeito ao outro que não alguém bem próximo(um parente, um apadrinhado); Outro é o componente institucional: o Estado dá a impressão de que não representa, de que pune mal e só pune os "não" amigos, os que não são parentes, amigos, escravos ou o que for dos agentes públicos. Não se há de menosprezar, claro, o componente econômico que perpassa tudo isso, mas está longe da associação mecânica que muitos, entre eles o presidente da República, fazem entre pobreza e violência. Sempre é mais complexo.
A questão do "crime organizado" é bem mais complicada do que um amontoado de pretos pobres batendo carteira e vendendo pó e erva em bocas de fumo nas esquinas de tudo quanto é cidade brasileira.O que Marcola e seus semelhantes no resto do país fazem é um desafio a um Estado Democrático, é um enfrentamento armado à sociedade. Já se passou há um tempo de ser algo incipiente. A entronização do crime no Estado é um capítulo relativamente recente porém tem um efeito de devastação atômica na ainda jovem democracia brasileira. A julgar a desimportância com que o tema vem sendo tratado por políticos, inclusive os candidatos à Presidência e pela alternância entre choque e inércia, quase demência da sociedade civil( OAB, ABI, isto ainda serve para alguma coisa ??), a canoa já furou.

O lugar complicado

Ninguém, em tese, é a favor de guerras. Quer dizer, tem aquele pessoal do orkut, mas do orkut não é muito bom lembrar porque ele é a confirmação de que "existe gente demais no mundo"( e essa constatação genial não é minha). O problema de Israel é bem típico. Humanitários, pacifistas, todo mundo quer o fim dos bombardeios, o fim das mortes no Líbano. Só não acho que a questão é tão simples como alguns comentários fazem crer. Não tenho lá grande conhecimento sobre a questão israelo-palestina, mas do pouco que sei, nunca, jamais vou dizer que somente os israelenses têm culpa no que se passa no Oriente Médio. Como também não vou tirar a razão de alguns tantos palestinos. Mesmo a questão do terrorismo é controversa, já que houve terroristas judeus antes da criação do Estado israelense. Claro que não se pode esquecer de toda a história pregressa, da interferência israelense no Líbano e da influência desta no surgimento do Hezbollah. Mas quero me prender a esse caso específico, iniciado com o seqüestro( alguém disse que é captura) de dois soldados israelenses. O que me leva a entender a atuação de Israel é o período recente, os últimos 5 anos mais especificamente. Desde que Israel saiu do Líbano, desde que houve uma cisão na direita israelense, desde que Sharon( e aprendi a detestá-lo nos livros de História e Geografia) ordenou a saída dos colonos de Gaza, o outro lado tentou negociar de forma efetiva? O Hamas e os outros grupos pensaram em depôr as armas? Não foi isso que vi. O mesmo vale para o Hezbollah, que há pouco acabou seqüestrando israelenses e precipitando toda esta crise. O maior problema, a meu ver, é que Israel pode estar jogando "o bebê junto com a água do banho". Até que ponto pode o Estado estar arriscando-se a permanecer em acirramento com outros Estados? Até que ponto Israel pode perder mais ainda o apoio da comunidade internacional? Até que ponto interessa aos israelenses serem vizinhos de uma região conflagrada? Até que ponto terroristas islâmicos podem motivar-se ainda mais com os bombardeios de Israel? Algumas respostas a essas questões, para surpresa de alguns, pode levar a uma afirmação das ações israelenses. Trata-se de uma questão complicadíssima e não ofereço resposta. Os choques entre israelenses e palestinos tem uns 60 anos de história, fora toda a "pré-história". Opinar de forma veemente sempre é leviano. Bem, este é um blog leviano...

domingo, 13 de agosto de 2006

Sobre o PCC, só com calma, ok? Este tema, junto com Israel é no qual mais eu tenho hesitado. Pronto, vou prometer algo: Esta semana, tem posts sobre as duas coisas.

sábado, 12 de agosto de 2006

três coisas

1- Uns livros meus estão com páginas sujas. Visto de lado, dá o aspecto de um livro sujo. Eu achava que era umidade, disseram-me que eram efeitos do suor dos dedos e que não há como limpar. Ainda não estou conformado.

2-A companhia das letras realmente está muito bem com essa coleção de bolso.

3- http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1208200610.htm Interessante, interessante.

Tucano sem asa

Geraldo Alckmin não deveria ter sido o candidato do PSDB. Já estava claro desde o começo do ano( desde antes, na verdade) que esta seria uma eleição difícil, acirrada e a vitória não seria tão fácil quanto a oposição acreditava. Quer dizer, estava claro para quem quisesse ver, o que parece não ter sido o caso de boa parte do partido, que optou por um candidato muito menos conhecido e com índice muito inferior nas pesquisas. A única forma que Alckmin achou para ser o escolhido pelo partido foi rachando-o. A forma para Serra o ser era unindo-o. A mera escolha do candidato já indicava o rumo da campanha...
Entre os que apóiavam Alckmin havia os que rejeitavam o "esquerdismo" de Serra, os que acreditavam na necessidade de um "gerente" assumir o Brasil e também os que diziam ser o atual candidato ao governo paulista ser "ruim de voto". Opa, como pude esquecer-me dos que diziam não ser possível o rompimento da promessa de não abandonar a prefeitura, de que isso seria uma quebra de palavra inaceitável? O tempo vem mostrando o erro desses grupos, ao que Lula e o PT agradecem¹.
Depois do mês passado, todo mundo começou a achar que Geraldo iria deslanchar e que um segundo turno era algo inevitável. As pesquisas das duas últimas duas semanas mostraram que foi uma precipitação. As eleições podem acabar em um só tiro e o desempenho do tucano pode ser pior do que o mais pessimista dos pessimistas esperava. Digo, posso porque sei que é possível uma virada, principalmente com o início do horário eleitoral gratuito na TV. Possível, mas muito difícil. Os entusiastas( ainda os há?) de Alckmin ainda escoram-se nesse horário, como se escoraram no início da exposição que ocorreria a partir de abril, maio...
E qual é o grande problema de Alckmin? A meu ver, o ponto é que o peessedebista não consegue identificar-se com uma bandeira, associar sua campanha com um projeto de governo, com uma intenção, com o que fosse. Em 94 FHC identificava-se com o Real. Em 98, com a estabilidade, a continuidade do trabalho. O Lula de 02 acenava com uma desejada mudança de ares. Agora, identifica-se para alguns setores como o anti-reacionário(apesar de ter um governo não tão mudancista) ou como aquele que faz algo para pobres, um político mais "do povo" dentre corjas que assolariam o Congresso. Alckmin identifica-se com o quê? Pra falar dos derrotados nas últimas campanhas, o Lula de 94 e 98 era o mudancista radical, o "anti" por definição: contra o establishment político, contra privatizações, contra negociatas, etc... Serra encontrou problemas porque nem se sentia tão à vontade na defesa do governo muito menos em se portar como quem poderia realmente encampar mudanças (num discurso assim, correria o risco de servir de escada aos oposicionistas).
Alckmin já tentou identificar-se como o candidato da economia dinâmica, dos juros baixos, crescimento do PIB. Tentou ser o anti-corrupto. Até agora, nenhuma das duas "faces" mostrou-se adequada para angariar votos, até porque foram tentadas de forma incompetente e insuficiente. Qual o plano de vôo para a economia? Qual a grande bandeira e como isso vai influenciar na vida de todos os brasileiros? Os tucanos não apresentaram respostas nem no economês muito menos fora dele, aliás os projetos de governos há muito já são só peça de ficção. O que Alckmin propõe exatamente pra diminuir a corrupção? A própria oposição não mostrou firmeza na hora de cortar a própria carne, nos casos Brant e Azeredo e passou a idéia de que é igual ao governo nessa seara.
A única coisa que foi feita decentemente foram algumas críticas ao governo, mas acabaram muitas vezes ofuscadas pelas crises das Sanguessugas( num escândalo Governo-Congresso, no qual se pode bater muito na atuação do Executivo) e da Segurança Pública no Estado de São Paulo. Muito da (por enquanto) derrota de Alckmin foi na "guerra de propaganda" com os petistas. Outro tanto encontra-se na anomia que está presente nos políticos brasileiros.

O problema é que para quem quer ganhar uma eleição difícil, a necessidade de formular, propôr e motivar o eleitorado é dez, cem, mil vezes maior para quem quer manter-se no cargo.


1- Serra vai abem nas pesquisas em SP, apesar de todo o problema com o PCC. E, bem, para ser candidato ao governo ele teve que deixar a prefeitura, né? Não consta que os paulistas( e os paulistanos, principais interessados no assunto) tenham retaliado a decisão do tucano. E quanto ao esquerdismo, parece-me melhor alguém que saiba que rumo quer implantar na economia para lá de chavões. E eu duvido muito que Serra seja um estatista extremo. Agora, anarco-liberais e miniarquistas arrumem um candidato, agrupem-se em um partido porque esse tipo de liberalismo que vocês desejam estão longe de aplicação prática no momento.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

jota ene entrevista...

Não vou mais numerar os posts sobre política, ok? Aqueles só foram numerados porque foram um atrás do outro, mas chega desse negócio de organização porque vai ficar feio o CXXIV.
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A essa altura( em internet, 3 horas parecem muita coisa) já vi comentários de que Lula foi sublime, de que Lula foi tosco, de que Bonner e Fátima, o casal vinte foram rigorosos, de que foram complacentes, mas ainda não cheguei a uma conclusão exata.
De certa forma, a entrevista foi um anti-clímax: Lula não falou nenhuma bobagem tétrica (ao estilo do critério científico de identificação racial do debate de 2002) e por outro lado não foi tão bem assim. Estava nervoso, visivelmente tenso durante as perguntas e as respostas que ele deu só responderam suficientemente a quem está tão cego na sua aprovação a tudo que Lula possa fazer.
Por sua vez, Bonner demorou uns 3 minutos( que parecem horas) na primeira pergunta e não me pareceu que o casal tenha imprensado o candidato à reeleição em algum momento, ao contrário do que fizeram com Alckmin. Isso aconteceu porque os entrevistadores foram incisivos, sempre inquirindo no espaço dado pelo tucano. Se se pode falar em defeito do Alckmin foi de ter respondido "dando espaços". Heloísa Helena aprendeu e quase não deixava os jornalistas falarem, no que em alguns momentos, soou como falta de educação, quase destempero, mas em outros soa como firmeza, determinação.
No caso de Lula, nem foi tanto como Alckmin, nem como Helena. Deixou os jornalistas perguntarem, perdendo muito tempo, o que para Lula foi positivo já que suas respostas limitaram-se a evasivas rasas. Não foram os jornalistas "chapa-branca" como em algum momento chegou-se (eu, inclusive) a cogitar, mas também não foram tão implacáveis.
Como para Lula o que importa é não errar, creio que com a entrevista de hoje ele mais ganhou do que perdeu. Alckmin só perdeu à medida em que deixou de ganhar votos, enquanto HH pode ter consolidado sua fatia de votos.
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Não falei de Cristovam, que é um candidato razoável, mas que parece querer passar sempre a imagem do "homem bom, professor doidinho mas bem intencionado". Ele não foi tão bem, não foi tão mal e nem vem conseguindo ditar a agenda da educação, que é o que parece ser sua meta, já que ele mostra total desinteresse em falar sobre qualquer outro assunto. A continuar nessa toada, será uma candidatura em branco, o que de certo modo é triste(pelo tema) mas é compreensível(pelo modo chocho como vem sendo exposto o tema).

páginas da vida

Depois de uma longa espera( vá lá, não que eu estivesse realmente tão atento a isso), vi na banca "V de Vingança". Arrumado o dinheiro, chego para pagar. A mulher da barraca de revistas, vira, olha o preço( R$ 39,90) e arregala os olhos.

- 40 conto!
- É, hehe (envergonhado)
- Ê Coragem!
- Ô, ...

sábado, 5 de agosto de 2006

política IV: Rondônia é o fim do mundo?

Rondônia é o fim do mundo? Acredito que não. Calma, rondonenses, não estou falando de vocês, não se preocupem. Estou falando da operação da Polícia Federal que prendeu os presidente da Assembléia Legislativa e do Tribunal de Justiça do Estado, fora os indícios e provas de envolvimento de 23( dos 24) deputados estaduais e de funcionários do Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público e (é, calma que não acabei) do Tribunal de Contas. Enfim, tudo quanto é instância do Estado foi tomada de assalto por ladrões.
O histórico de quadrilhas assaltando o Estado brasileiro não é novidade, mas sempre que surge um escândalo dessas proporções o susto, o impacto e a decepção sempre são maiores. Quando se pensa que é chegado o fundo do poço, há um pouco mais a descer.
Particularmente isso me assusta à medida em que percebo que em maior ou menor grau a profissão que escolhi( ou que vai-me escolher, nunca se sabe) está ligada a toda essa... hum, sujeira? imundície? realidade?, e que eu não sei se estou pronto ou se tenho coragem para tudo isso.
É o fim, é o fundo do poço? Não, nunca é. Claro que à primeira vista(e em uma segunda, terceira até) seria mais um motivo para descrer em instituições políticas, políticos, democracia , Justiça, etc... mas minha teimosia intui que esse tipo de descrença só vai servir de ponte para figuras mais abjetas e autoritárias tomarem a cena e pisarem em cabeças, o que só é uma bela forma de torrar minha paciência, coisa que definitivamente não é algo que eu goste que façam.

À luta. O que diabos isso significa?

ps: Heroísmo tem seu pai.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

política III: patetada no DF

A proposta de Nova Constituinte de Lula é tão imbecil que nem merece meu comentário. É imbecil porque não há nem indícios de mobilização e efervescência política no país para que exista uma coisa dessas. Imbecil porque é mais uma forma do sr. Presidente esquivar-se da responsabilidade pela crise política no país. E mais imbecil ainda no sentido de que soa desinteressada à príncipio, mas alguém duvida quem vai dominar o processo? Bem, Lula é patético a não mais poder, mas não foi para xingá-lo que isso aqui foi feito.
Quero falar é da aprovação unânime pela Comissão de Constituição e Justiça do projeto que extingue a reeleição. Deputados governistas e da oposição já deram suas entrevistas aplaudindo o projeto. Um acontecimento desses é do tipo que parece extinguir toda a crença da pessoa na democracia. Não extingue porque sempre se vê que pode piorar( Meu medo é que não vejam sempre...).
É óbvio que ninguém duvida que a emenda de 97 que institui a reeleição para os cargos executivos no país possuiu uma grande força casuística, que era a intenção reeleger FHC, que não havia candidato tão forte ou que aglutinasse tanto na base governista. O problema não é exatamente este, já que muitas vezes uma medida certa é aprovada por razões não santificadas. Política não é feita em monastério, e isso nem é exatamente um defeito. A questão é que reformar uma reforma desse naipe, que diz respeito à organização direta de um poder, algo que se não é feito para ser eterno, ao menos para durar um longo período mais do que mostrar que o que é aprovado no Congresso o é menos por convicção dos seus pares do que por qualquer outra coisa, mostra que NADA mais é levado em conta( e essa é uma crítica que no caso específico diz bastante respeito a tucanos e pefelistas). Que no processo político releve-se certas "veleidades" pode não ser de todo desejável mas é perfeitamente compreensível. Que se ignore completamente qualquer compromisso que não um interesse direto, evidente e sem base intelectual é levar o regime democrático a correr um risco sério. Sério como o de uma proposta imbecil.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

política II: ainda a província

No Correio da Bahia(jornal da família de ACM) de hoje saiu uma nota em que metade do PDT não estará na inauguração do comitê de João Durval em Feira de Santana por não querer a associação imediata do partido ao PT, o que está difícil na Bahia pela associação branca Wagner-Durval. Tudo indica que o PFL não desistiu de Tourinho ainda. Por isso, meu texto pode parecer bastante enganado a príncipio. A príncipio...