segunda-feira, 19 de março de 2007

sobre a areia, sobre a neve

O maior legado que um homem pode deixar a seu filho é o amor à liberdade. A vontade, mais do que uma expectativa de um direito, de se fazer o que quiser, sem objeções, desde que não cause mal a terceiros, é o maior tesouro que uma mente pode ter. Somente o homem livre pode arcar com as conseqüências dos seus atos, ainda que estas não sejam tão prazerosas. Ser livre boa parte das vezes não é um mero deleite ou prazer, podendo ser encarado como um fardo até. Quando digo que não é mero deleite, não digo que não seja benéfico. Ser livre é bom e em si só já constitui um prazer supremo, embora nem sempre seja visto como tal. Toda vez que um peso, um vergalhão assume as costas do homem, que paga por suas escolhas, a vontade de fraquejar é imensa. É o lado escravo gritando.
A positividade da escolha, conquanto limitada por circunstâncias, é das maiores realizações de um homem na vida. O produto da escolha, o produto de uma vida de escolhas e de luta é mais recompensador do que milhares de premiações vinda do nada.
A liberdade não é somente um direito. É mais do que isso. O homem verdadeiramente livre tem de brigar pelo que quer. Acrescento ao dito que só é pleno quem faz um filho, escreve um livro e planta uma árvore o seguinte feito: Só se é pleno quando se ensina a liberdade a um infante.

domingo, 11 de março de 2007

A Arte


A maior tolice que se pode dizer acerca de uma paixão do torcedor pelo seu time de futebol é que há alguma territorialidade nisso. O futebol transcende qualquer divisão arbitrária e política criada por algum burocrata engravatado. Mais: O torcedor não escolhe seu time, o time é que escolhe seu torcedor. O único óbice real para o livre-arbítrio é a relação existente entre o torcedor e o seu time de futebol. A tradição, os mitos, a história de cada time, isto toma o cidadão de uma maneira tal que a ele já não é mais possível dizer se quer torcer para o time A ou B. Ele torce e ponto.
Poy, Dario Pereira, Dino Sani, Pedro Rocha, Bauer, Canhoteiro, Leônidas, Ceni, Zizinho, Raí, a grandiosidade medida em títulos, histórias e sofrimento, em Glórias e juras, em Vitórias e monas, em Gritos enfurecidos e dois pênaltis perdidos em um jogo só, nada disso pode ser comparado ou tomado em relação a um território, a um Estado.
O que é uma Unidade da Federação diante de um Time? Só mesmo um apego bárbaro a terra impede que se admire o futebol na essência do que realmente é: esporte universal, ou melhor dizendo, mais do que esporte, categoria à parte, Futebol. Se Futebol é esporte, então os outros ditos esportes não o são, são meras brincadeiras(e aqui incluem-se picula, esconde-esconde, natação, vôlei ou corrida de carros), ou então esporte é esse tipo de atividade(ginástica, atletismo, etc...) e Futebol é somente Futebol. É impossível pensar o Futebol em termos de Estados, de cidades. Talvez seja impossível pensar o futebol em termos de países. O futebol é galáctico por natureza, é a síntese do que se possa pensar de razoável na humanidade. Não é à toa que seja realmente universal, a despeito da brutalidade de americanos, cubanos, venezuelanos e chineses. Estes tentam descobrir a magia, mas permanecem sem o dom. Talvez alcancem com o tempo.
Derrotas, fracassos, vitórias, estrondos, mesmo se acompanhados à distância por meio de um aparelho frio e impessoal, podem ser mais marcantes do que eventos que ocorram às vistas, a 2 metros de distância. A paixão pode brotar, ainda que não se domine a bola nos pés, ainda que se tropece na hora do chute, que a potência do pretenso tirambaço não ultrapasse a de uma formiga empurrando sua folha e sendo pisoteada no minuto seguinte.
O Futebol é a lupa. O Futebol é a cura para os ineptos.

Quebra-cabeça

Nesta semana que passou, saiu uma notícia dizendo que não sei quantos exabytes foram produzidos e armazenados no último ano e que isto significa umas seis vezes tudo que havia sido armazenado em conhecimento até o século XIX( se a notícia não é bem essa, o espírito é este, ou seja, hoje se produz e armazena muitíssimo mais informação do que em toda a história da humanidade).
Ora, isso não é novidade. Em um processo intensificado nos últimos 10 anos(e amplificado de forma brutal nos últimos 4- e contando...), qualquer guri pode gravar sua voz, suas conversas em chats, ou mesmo conversas "tradicionais"(basta um mp3 player com gravador, que custa quaisquer 50 reais em um china da vida) e assim ampliar o volume de informação do mundo. Ainda pode ter blogs, gravar músicas, filmagens, baixar e mixar clipes, música, e mais uma infinidade de coisas/assuntos/temas, que só contribuem para aqueles exabytes acima referidos.
Não se pode dizer que isso é ruim. Nunca a informação foi tão acessível, pois mesmo a existir enormes problemas para grandes parcelas da população acessarem a rede mundial dos computadores, nunca tantos(em números absolutos e relativos) tiveram o acesso que têm à informação. A pergunta que fica é: Qual informação?
Informação em si não quer dizer nada e pode ajudar em muito a uma relativização brutal dos fatos. O que é mais relevante, a visita de George Bush a São Paulo ou uma reunião de colegas em uma escola ou faculdade no interior do Rio Grande do Sul? A questão do etanol é tão importante quanto uma banda emo internacional em turnê brasileira? Na internet, tudo está a um click e os juízes de relevância(a autoridade, representada pela família, mídia,pelos professores, políticos ou quem quer que tenha- ou tente exercer- exercido esse papel) estão cada vez mais enfraquecidos. Nunca fomos tão capazes de escolher. Por outro lado, sem parâmetros razoavelmente objetivos, aparentemente, esta tarefa nunca foi tão difícil.
A grande busca da Web 2.0(ou 3 ou 4 ou 456, como queiram nomear), os "programas organizadores" que iriam além dos programas de busca, são tentativas de qualificar o que está disseminado de forma caótica pela rede: a informação. É a tentativa de transformar cada um em seu próprio juiz de relevância. Se isto parece a instauração plena do "reino da liberdade" de um lado, por outro, traz um problema: caído o juizo de relevância comum, é possível que haja zonas de encontros entre os juízos de relevância independentes? É possível alguma universalidade entre os mundos e os simulacros de mundo tão díspares quanto existentes na internet?

Essa é a dor de cabeça do milênio.

segunda-feira, 5 de março de 2007

escatológico

E o volume de informação vai inundar tudo isso, todo esse mundo. Estejam desesperados e prontos.