sábado, 29 de julho de 2006


Quando há uns 2 ou 3 meses assisti "Terra em Transe" fiquei bastante incomodado e de certa forma com uma dor de cabeça. Tudo bem, eu estava acordando todo dia 6 da manhã, ia dormir mais de meia-noite, tinha ""aula"" à tarde, dias de terça e quinta, etc...Teve todo aquele problema do começo do ano, eu não conseguia me concentrar, mas não é a esse tipo de dor de cabeça que me refiro.
O filme é catártico, extravagante(não necessariamente um elogio), vigoroso, pretende-se portador de uma mensagem, de uma poética que é toda muito esquisita. Ok, é um belo prenúncio(ao mesmo tempo diagnóstico) do que viria a acontecer(e já acontecia) no Brasil: demgagogos picaretas apoiando-se "no povo", um reacionário demente e salvacionista com um conservadorismo mais estético do que qualquer coisa, um representante da mídia oportunista e doido por poder e no meio disso tudo, um assessor, Paulo, um jornalista bem intencionado. Mas o que me interessou foi o dilema do personagem principal.
O grande dilema, à primeira vista, parece ser "Revolução" ou "Concertação", mudanças abruptas ou lentas, "o que fazer?". Paulo, a um momento irrita-se com a pusilanimidade do demagogo (o ator é Lewgoy) e rompe. A mensagem final do personagem é puro desespero e é uma espécie de "explosão das canções em desatino" e o que é pior de tudo, soa patética a quem está de fora. Como eu disse no parágrafo anterior, se o dilema do filme parecia ser o dilema de todo esquerdista a alguma altura de sua vida, uma análise mais cuidadosa verá um dilema maior: O que se apresenta diante de qualquer pessoa, o dilema entre escolher uma ação X ou Y, medindo a moralidade dos atos, se os efeitos serão realmente benéficos(no caso do filme, se benéficos para "o povo" ou não). Ao redor de tudo isso, a inevitável conclusão -e aqui reside o incômodo- de que não basta ser bem-intencionado e de que ser "puro" em relações humanas, muitas vezes significa não estar pronto para viver.
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* A história lembra muito o Chile de 73. Se bem que não sei se era esta a visão de Gláuber Rocha sobre Allende.

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