sábado, 18 de novembro de 2006

obsessão pelo progresso I


De 2003 até o começo de 2005 minha grande preocupação era com o progresso. Eu só tomava posições políticas de acordo com respostas a uma pergunta básica: "As coisas melhoram, progridem com isso?". Melhor formulando, "O mundo evolui com isso?". Lembro de redações que fiz, de discussões que tive, sempre com essa obsessão pelo progresso. Foi, aliás, um dos fatores que me levaram a me afastar da "esquerda"(Pausa explicativa: Sempre que eu emitir opiniões políticas, considere-as precárias, insuficientes, não muito lidas, talvez. Veja bem, eu conheço meus limites. O ponto é que pode ser que ao meu redor as opiniões estejam no mesmo- ou até com maiores- limites) . A prisão a velhos temas(muitos chavões também), a teimosia em reconhecer novas realidades, o apego a preconceitos, tudo isso me deixava bastante irritado. Calma, caro esquerdista. Eu sei que isso existe na "direita" também, mas o meio em que eu estava/estou mais me chamou atenção à esquerda.
Então eu reivindicava um discurso à esquerda, mas distante de uma característica bem comum à esquerda: passeatas, manifestações, aglomerações em protesto. Reconheço bem a importância deste tipo de ação, mas é algo que realmente nunca me tocou e para o qual eu nunca estive disposto a participar. Repare que reconheço a importância mas não acho que seja tão eficaz assim.
Eu dizia, porém, de minha obsessão pelo progresso. Do "Manifesto Comunista" eu gosto muito desse trecho aqui:

"A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário.
A burguesia, lá onde chegou à dominação, destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem misericórdia todos os variegados laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do interesse nu, o do insensível "pagamento a pronto". Afogou o frémito sagrado da exaltação pia, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia pequeno-burguesa, na água gelada do cálculo egoísta. Resolveu a dignidade pessoal no valor de troca, e no lugar das inúmeras liberdades bem adquiridas e certificadas pôs a liberdade única, sem escrúpulos, de comércio. Numa palavra, no lugar da exploração encoberta com ilusões políticas e religiosas, pôs a exploração seca, directa, despudorada, aberta. "


E ainda: "A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas... " "... Tudo o que era dos estados [ou ordens sociais — ständisch] e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas."

Marx e Engels ainda continuam, tem a famosa passagem das " pirâmides egípicias, dos aquedutos romanos" e toda essa narrativa é acelerada, um misto de espanto, horror e positividade. É como se a burguesia abrisse todo um mundo de possibilidade, mesmo que com todos os problemas, as soluções estariam à mão. Aliás, isso não é só Marx, mas parece que é o espírito predominante em todo o século XIX, notável na expansão dos EUA(com todo o sangue que isso trouxe também). Claro que sempre vai existir um pessimista(" isso tudo é um monte de estrume") , mas o que predominou no século e continuou na primeira metade do XX foi justamente isso: a ânsia de mudar, de melhorar, de movimentar.

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