domingo, 11 de março de 2007

A Arte


A maior tolice que se pode dizer acerca de uma paixão do torcedor pelo seu time de futebol é que há alguma territorialidade nisso. O futebol transcende qualquer divisão arbitrária e política criada por algum burocrata engravatado. Mais: O torcedor não escolhe seu time, o time é que escolhe seu torcedor. O único óbice real para o livre-arbítrio é a relação existente entre o torcedor e o seu time de futebol. A tradição, os mitos, a história de cada time, isto toma o cidadão de uma maneira tal que a ele já não é mais possível dizer se quer torcer para o time A ou B. Ele torce e ponto.
Poy, Dario Pereira, Dino Sani, Pedro Rocha, Bauer, Canhoteiro, Leônidas, Ceni, Zizinho, Raí, a grandiosidade medida em títulos, histórias e sofrimento, em Glórias e juras, em Vitórias e monas, em Gritos enfurecidos e dois pênaltis perdidos em um jogo só, nada disso pode ser comparado ou tomado em relação a um território, a um Estado.
O que é uma Unidade da Federação diante de um Time? Só mesmo um apego bárbaro a terra impede que se admire o futebol na essência do que realmente é: esporte universal, ou melhor dizendo, mais do que esporte, categoria à parte, Futebol. Se Futebol é esporte, então os outros ditos esportes não o são, são meras brincadeiras(e aqui incluem-se picula, esconde-esconde, natação, vôlei ou corrida de carros), ou então esporte é esse tipo de atividade(ginástica, atletismo, etc...) e Futebol é somente Futebol. É impossível pensar o Futebol em termos de Estados, de cidades. Talvez seja impossível pensar o futebol em termos de países. O futebol é galáctico por natureza, é a síntese do que se possa pensar de razoável na humanidade. Não é à toa que seja realmente universal, a despeito da brutalidade de americanos, cubanos, venezuelanos e chineses. Estes tentam descobrir a magia, mas permanecem sem o dom. Talvez alcancem com o tempo.
Derrotas, fracassos, vitórias, estrondos, mesmo se acompanhados à distância por meio de um aparelho frio e impessoal, podem ser mais marcantes do que eventos que ocorram às vistas, a 2 metros de distância. A paixão pode brotar, ainda que não se domine a bola nos pés, ainda que se tropece na hora do chute, que a potência do pretenso tirambaço não ultrapasse a de uma formiga empurrando sua folha e sendo pisoteada no minuto seguinte.
O Futebol é a lupa. O Futebol é a cura para os ineptos.

2 comentários:

Rodrigo disse...

É isso mesmo. Por isso que tem gente que torce pelo Flu de Feira! Coisa maravilhosa.

Corrida de carro, obviamente, não é esporte. Imagina.

Ederval Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.