segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Em defesa do medo

Diferente do que se pode pensar, coragem não se opõe ao medo, não são características contraditórias. Ao contrário, para que a audácia se manifeste de forma plena, muitas vezes é importante que se tenha noção dos riscos e dos limites para ação, e isto se constitui somente com a presença do medo.
O medo, este traço de personalidade tão difamado, alvo da maledicência de tantos ao longo dos tempos, motivo de constrangimento de rapagões com sede de auto-afirmação e só admirado em donzelas indefesas de um século anterior(nem isso mais sobrou para o pobre Medo, coitado), sem ele não há nem que se falar em coragem.
Nosso amigo, papai Houaiss, nos diz que a palavra coragem vem do "francês 'courage' (1050, por coeur) 'coração', depois (c1100) 'disposição nobre do coração, qualidade espiritual de bravura e tenacidade', der. de coeur + suf. -age; ver cor(d)-". Ora, isso nos revela que mais do que a oposição ao temor, a coragem é um estado de espírito, uma nobreza de caráter, que faz com que os perigos sejam enfrentados.
O medo, ainda que como temor irracional, serve de alerta aos perigos. Não que seja impossível de haver um corajoso sem medo, mas de toda forma, ele é um corajoso incompleto, um corajoso ao qual falta aquele "pouco mais" que o transformará num espírito nobre de fato, afinal para que a coragem seja uma característica positiva e útil, já não basta existir por si e sim como função. A coragem existe para que se enfrente as dificuldades, as adversidades que estejam postas na vida. Não é que as dificuldades a serem enfrentadas devam ser vencidas necessariamente, mas há a nobreza do confronto, que só se dará com a existência da coragem.
E o medo, este tão desprezado, ele é fundamental no que serve de alerta e base para o enfrentamento do perigo. Só se conhecendo o perigo ou tendo noção de sua dimensão é possível confrontá-lo, com exceções a confirmar a regra.

Por isso, nunca deixem de ter medo. Mas sempre busquem a coragem.

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